‘Amigo de infância falsificou meu documento e fui preso injustamente’

A vida de Ricardo Bruno Bastos, 32 anos, virou de ponta a cabeça no dia 19 de fevereiro. Enquanto trabalhava em uma farmácia em Valparaíso de Goiás, ele foi surpreendido por policiais militares que chegaram ao local para prendê-lo por duas tentativas de latrocínio – roubo seguido de morte -, que teriam ocorrido no estado do Pará. Porém, Bastos nunca esteve na região e tampouco cometeu algum crime.

Questionada, a Polícia Civil do Pará informou que atuou dentro dos protocolos legais, “diante dos documentos apresentados na época, sendo feita a correção imediata após exames das impressões digitais, demonstrando nosso comprometimento com a justiça”.

O que aconteceu

Ricardo Bastos foi levado para a Delegacia Central de Flagrantes de Valparaíso de Goiás e colocado em uma cela com outras 18 pessoas, apesar de alegar inocência. Após dois dias preso, a Polícia Civil descobriu que os documentos de Ricardo haviam sido falsificados por um amigo de infância dele. O verdadeiro suspeito, identificado como José dos Reis Santos, já havia sido morto meses antes – em um confronto com a polícia.

Bastos relatou os dias difíceis que passou atrás das grades. Um dia após ser preso, ele passou por uma audiência de custódia e o juiz decidiu por manter a sua prisão. Depois, o atendente de farmácia foi transferido para a Unidade Prisional de Valparaíso de Goiás.

“Foram os dias mais difíceis da minha vida. Saí do Nordeste e vim em busca de uma oportunidade. Sempre busquei ter uma vida honesta e jamais faria algo diferente. Naquele momento, dentro da prisão, foi como se tivessem pegado minha honra, minha cidadania e rasgado, jogado tudo fora, como se eu fosse uma pessoa ruim, um monstro, sem nem saber realmente porque eu estava sendo preso.”

O atendente de farmácia conta que a todo momento pensava na família, principalmente na avó. Teve medo de que ela passasse mal ao saber da notícia. Ele também temia por sua integridade física.

Sou bastante forte psicologicamente em alguns aspectos, então, eu sabia que iria aguentar, mas minha família, não. Claro, tive muito medo de alguém me machucar lá, me fazer algum mal, mas, contei a minha história para as pessoas que estavam na cela, disse que eu era inocente e todos me deram apoio. Mesmo assim, quase não dormi, não conseguia.

“Amigo de infância”

José dos Reis Santos Oliveira e Ricardo Bruno Bastos se conheceram na infância, em Vargem Grande, no Maranhão. Os dois estudaram na mesma sala, mas, o suspeito mudou para o Pará e nunca mais encontrou o atendente de farmácia.

O contato que tive com ele foi assim que cheguei em Brasília, por telefone. Conversamos como amigos normais, colegas mesmo. Ele me pediu dinheiro emprestado e seguimos nossas vidas. Quando fiquei sabendo dos crimes, depois de muito tempo, e também da morte dele, fiquei mal, chorei, porque era um colega de infância, né?

Bastos não sabe, até hoje, como Oliveira conseguiu os seus dados. Mas, suspeita de que o homem tenha adquirido o seu número de CPF pelo telefone celular, além de saber o seu nome completo.

“Foi um choque realmente. Depois de dois dias, meu advogado e os policiais contaram o que tinha acontecido. Foi uma mistura de alívio e revolta também, por ter sido preso injustamente”

Liberdade

Diante da possibilidade de transferência de Bastos para o estado do Pará e após análise do processo, a Polícia Civil verificou que os dados da vítima estavam registrados com uma foto diferente da sua. Além disso, havia outro processo com a mesma foto, que pertencia ao verdadeiro criminoso.

“As vítimas reconheceram o verdadeiro criminoso entre outras quatro fotografias, não reconhecendo em nenhum momento o Ricardo Bruno. A defesa, ciente das informações do processo, solicitou diligências junto à promotoria do estado do Pará para investigar o erro com urgência. Ficou, então, comprovado que José dos Reis Santos Oliveira se passava por Ricardo Bruno. A denúncia foi corrigida pelo Ministério Público e em sentença proferida pelo juízo do estado do Pará, Ricardo foi declarado inocente, teve a prisão preventiva revogada e foi expedido o alvará de soltura.”